AS RELIGIÕES TROUXERAM E CONTINUAM TRAZENDO MUITOS PREJUÍZOS À HUMANIDADE - Pensamentos de Marcelo da Luz

14/01/2013 11:39

Em primeiro lugar, a religião fomenta a formação da mente sectária, isto é o devoto vai interpretar o restante do mundo por meio do foco dogmático da doutrina professada pela sua religião. Estará convencido de que o seu grupo é dono da “verdade” ou “revelação” absoluta. Isso gera, frequentemente, o sentimento de que o devoto de uma religião diferente, o “outro” é um rival, um opositor, um inimigo. No cristianismo, existem cerca de 33.800 seitas diferentes, todas pretensas candidatas à “verdade única” do cristianismo.  Alguém poderia objetar que isso é um comportamento observável apenas nos pequenos grupos, as seitas. Mas nas grandes religiões ocorre o mesmo. A mente sectária está presente tanto na Igreja Católica, que tem aproximadamente um bilhão de fiéis, assim como na igrejinha da esquina, que acabou de ser inaugurada, com 30 fiéis. Recordo-me a esse respeito, a orientação que recebíamos em Roma, no seminário internacional da Ordem Franciscana. Foi-nos dito que não deveríamos aspirar ao “ecumenismo franciscano” (a Ordem Franciscana está dividida em três grupos, que já brigaram muito no passado), mas sim defender nossas raízes e antigas tradições. Inexiste religião universalista.

 

Outro problema dos mais sérios é a promoção da dependência consciencial. Por um lado, as pessoas, em geral, inseguras quanto aos recursos pessoais (talentos e capacidades) anseiam encontrar alguém que lhes aponte uma estrada certa e lhes diga o que fazer. Por outro lado, os líderes religiosos julgam ter as fórmulas seguras que levam à realização absoluta. Uma metáfora evangélica expressa essa relação de dependência: “pastores e ovelhas”. Animais passivos e indolentes, as ovelhas obedecem ao comando do pastor. “Rebanho” é outra metáfora que expressa a noção de “massa impensante”. Devotos escolhem renunciar ao pensamento próprio para “terceirizarem” suas escolhas existenciais.

 

Abordamos também o vínculo existente entre religião e violência. Inegavelmente, o passado e o presente da Humanidade são manchados de sangue derramado pelos religiosos. Essa violência é algo intrínseco aos credos religiosos, ou a fé das populações fanáticas apenas tem sido usada por outros sujeitos interessados no poder político e econômico. Penso que a religião carrega em si a semente da violência, pois a pregação da verdade absoluta exige sempre defesa e controle. Os livros sagrados (Bíblia e Alcorão, por exemplo) estão repletos de textos que incitam à violência. Enquanto forem considerados “Palavra de Deus”, esses textos continuarão a funcionar como bombas-relógio prontas a eclodir a partir das mentes sectárias.

 

Muitos dirão que um dos maiores benefícios das religiões (e talvez uma das justificativas para sua permanência) é a pregação da paz e da justiça entre os povos. Esta ideia é um mito, pois as religiões, historicamente, sempre fizeram apologia da tirania e da escravidão. A defesa dos direitos humanos é uma ideia secular, não religiosa. Se hoje muitos religiosos se identificam como arautos da paz é porque o mundo secularizado exige isso. Mas a partir dos problemas que apontamos (sectarismo, promoção da dependência, discurso irracional), dificilmente a “paz” pregada pelos religiosos poderá ter substância para garantir entendimento saudável entre os povos. A redescoberta da “espiritualidade”, isto é, o autoconhecimento enquanto relação com o “transcendente” pode representar um avanço dentro do itinerário existencial daqueles que antes estavam muito presos à religião institucionalizada. O problema é que, geralmente, essa “espiritualidade” é vivenciada como outra forma de dependência. A pessoa continuará a atribuir suas vivências mais concretas à relação com alguém superior, mesmo que este “superior” seja compreendido como algo extremamente abstrato que se manifesta no “interior” dela. Você mencionou o dalai lama. Por que alguém, para falar de paz e compaixão, precisaria ter uma relação de subserviência com o universo? Por que alguém precisaria defender a necessidade de ser chamado de “Sua Santidade”? A transcendência da consciência sobre a matéria é um fato conatural à vida humana e, portanto, cada indivíduo pode ser autônomo e autorresponsável quanto às experiências “extrafísicas” (considerem-se aqui os fenômenos “paranormais” da viagem astral ou desdobramento, precognição, clarividência e tantos outros). Inexiste a necessidade de genuflexão diante de qualquer outra consciência ou realidade do cosmo. A autonomia do experimentador mediante a aplicação do “princípio da descrença” é uma das premissas básicas da Conscienciologia.