JESUS NÃO ERA "CRISTÃO"

Jesus nunca pensou em fundar uma seita.

O cristianismo, tal como foi desde os tempos de Constantino, está mais distante de Jesus do que de Zoroastro ou de Brama. Jesus tornou-se o pretexto de nossas doutrinas fantásticas, de nossas perseguições, de nossos crimes religiosos; mas não foi seu autor.

Vários viram Jesus como um médico judeu, que uns charlatães estrangeiros transformaram em chefe de sua farmácia. Esses charlatães quiseram fazer crer que haviam obtido dele seus venenos.

Dá-me prazer demonstrar que Jesus não era "cristão", que, ao contrário, ele teria condenado com horror nosso "cristianismo", tal como Roma o estabeleceu; cristianismo absurdo e bárbaro, que avilta a alma e faz morrer o corpo de fome, enquanto espera que, algum dia, ambos sejam queimados juntos durante a eternidade; cristianismo que, para enriquecer monges e gente que não vale mais que aqueles, reduziu os povos à mendicância e, em consequência, à necessidade do crime; cristianismo, enfim, que podia consolar a Terra e que no entanto a cobriu de sangue, carnificina e incontáveis desgraças de toda espécie.

Adaptado de Voltaire